Dona Vera tinha assunto com todo mundo, do governador do Estado ao andarilho que tocava a campainha. O segredo era não apenas adequar a linguagem para cada situação, o que fazia sempre muito bem, mas também encontrar um assunto de interesse comum entre ela e o interlocutor. Posso sentir-me privilegiado nesse aspecto, pois nossos temas de prosa foram sempre instigantes e sofisticados, da literatura às viagens, passando por “objetos de cultura”, como canetas, relógios, gravatas e, claro, tapetes. Digo claro porque minha origem árabe fez com que fossem os primeiros a animar as nossas conversas. No início, trocamos observações gerais sobre preferências por cores, padrões e harmonização em diversos ambientes, como, por exemplo, a escolha e reposição periódica dos persas do Palácio do Planalto. Em seguida, vieram informações mais complexas sobre as regiões e subregiões produtoras, os padrões de tingimento e as técnicas de entrelaçamento. Da face dupla do Kilim à beleza primitiva dos afegãos, aprendi muito com ela. O árabe sou eu, mas era ela quem conhecia tapetes. Esse da foto é um Quatro Estações, presente seu que nos relembra diariamente os ciclos do ano e da vida e, evidentemente, perpetua sua presença em nossa casa. Versatilidade nos assuntos e bom gosto é Verinha de tudo! (Henrique, genro)
Nenhum comentário:
Postar um comentário