terça-feira, 25 de setembro de 2012

Dialeto 4

Cada dia lembro de uma das expressões da mamãe e fico rindo sozinha. Agora vou contar uma que ela usava toda vez que demonstrávamos euforia ou ansiedade em relação a alguma coisa. Bastava perceber a nossa inquietude para ganhar um presente, receber um amigo em casa, fazer uma viagem, esperar o bolo “Nega Maluca” sair do forno ou ir a uma festa que Verinha dizia: “Ei, vamos parando com essa sangria desatada!”. Pronto, tínhamos de respirar fundo e aguardar, pois ter compostura é Verinha de tudo! (Leonora)

Receber e compartilhar

Meu marido adora receber os amigos em nossa casa. Digo que, por ele, nunca trancaríamos a porta da sala. Gosta de escolher o vinho, pensar no cardápio, selecionar os CDs e colocar as flores nos vasos. Sendo ele tão parceiro, embarco na viagem. Como a mamãe morava em Goiânia e eu, em Campinas, ela curtia acompanhar por telefone todos os preparativos e, mais recentemente usávamos o skype. Verinha dava palpite em tudo, da toalha às flores, do aperitivo à sobremesa. Quando tudo ficava pronto, ela não conseguia disfarçar a satisfação. No dia seguinte, bem cedo, ligava para saber como tinha sido. Sempre pesquisava novidades no supermercado, empório e no verdureiro, testava e me contava para que pudesse ser incluído no próximo jantar. Ter nos dado asas para voar e, mesmo assim, ficar bem pertinho é Verinha de tudo! (Leonora)
 

 

domingo, 23 de setembro de 2012

Hora do banho

Já deu para perceber que a mãe Verinha tinha apreço por limpeza e organização? Então imagine como ela conduzia os nossos banhos. Quando pequenas, ela nos dava banho em três etapas. Começava fora da banheira, limpando as orelhas, passando óleo Johnson nas dobrinhas e cortando as unhas. Depois vinha o banho propriamente dito, lavando cada dedinho, caprichando no pescoço e fazendo espuma na cabeça. Para finalizar, depois de bem enxutinhas, vinha a sessão “brincar de boneca”, ou seja, hora de enfeitar, colocar as roupinhas, os sapatinhos e os lacinhos. Já na idade de começarmos a tomar banho sozinhas, Verinha ficava a postos do lado de fora do box supervisionando o nosso trabalho e, uma vez por semana, ela mesma fazia a faxina. De bucha na mão, mamãe não dosava a força e caprichava no esfrega-esfrega. Já na entrada da adolescência, quando os cheirinhos começam a mudar, com seu olfato infalível ela ameaçava: “Volta pro banho, senão eu vou colocar você de molho no OMO.” (risos). Sair limpinha e enrugadinha do banho é Verinha de tudo! (Leonora)

 

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Dialeto 3

Educar filhos não é uma tarefa fácil. Ao longo de um dia são várias emoções. Os testes à paciência não terminam e, como já disse, Verinha não era de fazer rodeios. Quando ficávamos insistindo em alguma coisa que ela já havia dito NÃO, ela dizia logo: “Não adianta dar sapituca de rodinha. Não é não e ponto final.”. Acabar com a birra de uma só vez é “Verinha de tudo!” (Leonora)

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Dialeto 2

Como disse em outro post, Verinha tinha expressões impagáveis e nos fazia rir até nos momentos de braveza. Quando uma travessa escorregava da sua mão, algo pingava em sua roupa, acontecia um tropeço no pé da cadeira, a tarracha do  brinco caia, ou algo do gênero, ela dizia em alto e bom som “Fé dazunha!”. Era como se fosse uma bronca na travessa, no pingo, no pé da cadeira ou na tarracha. Muito bom! Ter humor até na hora da raiva é Verinha de tudo! (Leonora)

Da intensidade e da saudade

Há um mês, passeando pelas ruas do Cambuí, bairro onde moro em Campinas, os ipês estavam assim, carregados de flores. Apreciá-los em sua intensidade é o mesmo que estar na companhia da mamãe. Essa exuberância, esse colorido... são Verinha de tudo! (Leonora)






Motivações para uma boa conversa

Dona Vera tinha assunto com todo mundo, do governador do Estado ao andarilho que tocava a campainha. O segredo era não apenas adequar a linguagem para cada situação, o que fazia sempre muito bem, mas também encontrar um assunto de interesse comum entre ela e o interlocutor. Posso sentir-me privilegiado nesse aspecto, pois nossos temas de prosa foram sempre instigantes e sofisticados, da literatura às viagens, passando por “objetos de cultura”, como canetas, relógios, gravatas e, claro, tapetes. Digo claro porque minha origem árabe fez com que fossem os primeiros a animar as nossas conversas. No início, trocamos observações gerais sobre preferências por cores, padrões e harmonização em diversos ambientes, como, por exemplo, a escolha e reposição periódica dos persas do Palácio do Planalto. Em seguida, vieram informações mais complexas sobre as regiões e subregiões produtoras, os padrões de tingimento e as técnicas de entrelaçamento. Da face dupla do Kilim à beleza primitiva dos afegãos, aprendi muito com ela. O árabe sou eu, mas era ela quem conhecia tapetes. Esse da foto é um Quatro Estações, presente seu que nos relembra diariamente os ciclos do ano e da vida e, evidentemente, perpetua sua presença em nossa casa.  Versatilidade nos assuntos e bom gosto é Verinha de tudo! (Henrique, genro)


sábado, 8 de setembro de 2012

Trilha sonora do sábado


A música sempre foi companheira em nossa casa. Verinha tinha gosto diversificado, ia do clássico ao sertanejo sem pestanejar. E se divertia com tudo! De manhã cedo, antes mesmo do café da manhã, a primeira providência era ligar o rádio. Já na hora do almoço, enquanto preparava suas delícias, o som aumentava um pouquinho de volume e ela arriscava seus passinhos enquanto mexia as panelas. Entre seus artistas preferidos, um disco em especial "morou" no aparelho de som muito tempo: Antônio Carlos e Jocafi. "Das peripécias do amor... teimoooosa...", "Você abusou... tirou partido de mim, abusou..." "Oh dona da casa, por nossa senhora, dai-me o que beber, se não eu vou-me embora..." Sabemos todas as letras de cor, cada uma delas fisga uma lembrança alegre! Dançar e cantar sem hora pra acabar é Verinha de tudo! (Mariana)
 
 
 

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Capricho com as roupas

Mamãe prezava uma roupa limpa e bem passada. A lavanderia em nossa casa era um departamento à parte. Cheia de cabides, prendedores de roupa, escovas de tamanhos diferentes, vários tipos de sabão, goma, alvejantes, vinagre, tira-ferrugem, balde e bacia para todos os gostos suportavam todo tipo de alquimia! Mais parecia um laboratório químico. A máquina de lavar roupas, coitada, não era desligada nunca! Juro que é verdade! De dia, seguia os ciclos ininterruptamente e, durante a noite, permanecia no modo “molho”. Já o tanque era um fiel aliado das manchas mais difíceis e das roupas delicadas. Mamãe achava que o ideal era que toda roupa fosse esfregada a mão, no tanque, antes de ir pra máquina. Por conta de tanto capricho, ela nos dizia que, quando usada, a roupa não deve voltar para o armário. Obviamente aquela roupa usada mesmo para um passeio leve não estaria à altura de toda a goma e perfume que preenchiam nossos guarda-roupas. 
Recentemente, esperando a chegada dos netos, filhos da filha do meio, lógico que chamava para si a tarefa de lavar, engomar e passar todas as roupinhas. Não bastasse tudo isso, ainda embalava uma a uma, em saquinhos plásticos novinhos. Verinha tinha prazer em preparar o enxoval com carinho! Caprichar nos cuidados com as roupas é Verinha de tudo! (Leonora e Mariana)
 
Reparem no capricho!
Sapatinhos cheirando bebê!
 


 

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Dialeto

Verinha era engraçada, divertida. Usava umas expressões im-pa-gáveis. Quando os amigos vinham nos visitar, perguntavam: “O que sua mãe disse?” (risos) Parecia um dialeto, mas nós compreendíamos muito bem. Por isso, neste blog também não podem faltar essas expressões tão peculiares, que valeriam um dicionário à parte. Hoje vou contar uma! Quando aparecíamos despenteadas, ela dizia: “Onde você pensa que vai com essa gaforina?” (risos). Ser bem humorada e não fazer rodeios é Verinha de tudo! (Leonora)

Ainda sobre aniversário...

Como disse no outro post, mãe Verinha gostava de preparar festas de aniversário. Investia em cada detalhe! Fartura e beleza deviam ser companheiras inseparáveis à mesa de comemoração. Mas o mais importante era viver cada preparativo: na cozinha, à beira do fogão, conversando, mexendo a panela e nos divertindo ao experimentar cada quitute, íamos acrescentando o tempero do afeto aos alimentos. Este ritual, era, antes de tudo, um ritual do nosso encontro. Foi a partir deste aprendizado que eu e a Lorena nos dedicamos ao preparo dos brigadeiros do aniversário de um ano do filho mais novo dela (meu sobrinho!). Ela fez o brigadeiro, eu enrolei, ela pôs nas forminhas, organizamos a decoração da mesa, e, enquanto isso, entre um riso e um "causo", adoçamos nosso convívio. Pouco mais de um mês depois, repetimos a dose para fazer os brigadeiros do meu aniversário, que mesmo não tendo uma grande festa, contou com esses docinhos especiais. Atentar-se aos detalhes e realizar com amor é Verinha de tudo! (Mariana)

Meu aniversário de 7 anos: todos os quitutes feitos pela Verinha e
a decoração feita pelo meu pai.
 
Esses brigadeiros deliciosos feitos pela Lorena para o meu aniversário

 
Mesa de doces do aniversário de 1 ano do meu sobrinho - tema fazendinha.
Olha que delícia colocar os brigadeiros nos mini-chapéus de palha! 


terça-feira, 4 de setembro de 2012

Gordinha de classe!

Fui magra até os 12 anos, bem magra. Verinha, marinheira de primeira viagem, fazia "das tripas coração” para que eu comesse. Ia ao pediatra, dava vitaminas e muita geléia de mocotó Imbasa. Eu resistia bravamente! No entanto, aos doze anos, quando fiquei mocinha, o resultado de todo aquele empenho aconteceu. Eu passei a ter uma fome de leão e, lógico, engordei. Daí pra frente o esforço era para me ajudar a emagrecer. Valia tudo: endocrinologista, ginástica, acupuntura, dieta, educação alimentar, fórmulas alopáticas e homeopáticas. Por volta dos 30 anos ela desistiu e me deu essa estatueta de gordinha dizendo: “Filha, ser gorda não é problema, mas ser descuidada sim. Trate de comprar roupas charmosas e valorizar o que você tem de bonito.”. Hoje corro as lojas especializadas em tamanhos especiais buscando roupas de tecidos com bom caimento, cortes acinturados e acrescento acessórios de qualidade. Ser uma gordinha cheirosa e arrumadinha é Verinha de tudo! (Leonora)

Aniversário

Hoje é aniversário da filha do meio de Verinha. Mamãe adorava aniversários! Gostava de pensar o cardápio, preparar os quitutes, decorar a mesa... Acho que gostava mais dos preparativos do que da festa em si, pois na hora estava cansada... Tudo tinha que ser farto e gostoso! Hoje, pela correria da vida, nem sempre podemos nos dedicar ao preparo das delícias. Mas elas nunca faltam! Foi pensando nisso que encomedamos esses pães de mel para compor a mesa de hoje. Verinha de tudo! (Mariana)


Pães de mel da Leclanté, patisserie de Belo Horizonte.
Macios e cremosos por dentro, e um mimo por fora!

Delicadeza põe a mesa!


Na nossa casa, a mesa era sempre posta, seja para o café da manhã, para o almoço, para o lanchinho da tarde ou para o jantar. Toalha, pratos, xícaras e talheres, nada de improvisos. Essa mesa foi para um café da manhã com uma amiga querida na última sexta-feira.  A jarrinha de leite era da mamãe, Verinha de tudo! (Leonora)

Dedicação aos detalhes

Mamãe sempre chamou a nossa atenção para apreciar e valorizar os detalhes. Assim nos fez entender que, por traz do alvo e engomado jogo americano, do capricho do bolo de laranja e da mesa tão bem posta, está a dedicação de várias pessoas. Reconhecê-la é Verinha de tudo! (Leonora)


Pousada Brisa da Serra, em Tiradentes (MG)

Da penúria dos sapatos

Para desespero da mãe Verinha, aos quinze anos eu calçava 40! Meu pai dizia: “Isso não é um pé, é uma lancha!”.(risos) Aflita, a mamãe me levou ao ortopedista para ver se eu ainda ia crescer muito. Hoje, calço 42! Naquela época não era fácil, a peregrinação era grande para conseguir um sapato de menina do meu tamanho. Ela fazia de tudo: descolava um sapateiro de boa vontade para confeccionar em tamanho especial, ficava “amiga íntima” das vendedoras das lojas de sapatos e ia pra São Paulo, na Casa Eurico, tirar a barriga da miséria. Mamãe amava sapatos! Essa paixão passou para mim. Tanto tempo no sufoco... Hoje vejo e não resisto! Ter uma coleção de sapatos é Verinha de tudo! (Leonora)


Quem não se enfeita, por si se injeita!


Mamãe sempre me dizia: “Leonora, minha filha, quem não se enfeita, por si se injeita!”. Quando éramos pequenas, o maior prazer que ela tinha era o de nos arrumar. Fazia rabo de cavalo, trança e maria-chiquinha. Sabia colocar presilhas fazendo um torcidinho no cabelo que ficava uma graça. É verdade que puxava muito o cabelo para ficar esticadinho, quase virávamos chinesinhas, e, quando nos queixávamos, ela dizia: “O conforto excessivo é inimigo da elegância!”. Hoje adoro fazer penteados na irmã do meu afilhado, ela diz que eu devia ser cabeleireira. Vejam como essa trança para a festa junina de 2011 ficou Verinha de tudo! (Leonora)

Flores


Mamãe era apaixonada por plantas. Sabia cuidar, plantar e fazer arranjos. Sempre que visitava as nossas casas, cuidava dos vasos. Ela tinha a “mão verde”. Esse balde com hortênsia ficou Verinha de tudo! (Leonora)

Ainda os jardins...


Na mesma viagem de 2010, visitando Heidelberg, virando as ruas sem destino, vi essa casa e, obviamente, lembrei da mamãe. Que espetáculo! Depois, quando mostrei a foto, ela ficou estupefata, achando a coisa mais linda do mundo. Verinha de tudo! (Leonora)

Os jardins de dentro


Em 2010, viajando pela Europa, tirei essa foto no mercado de flores em Amsterdã. Impossível não lembrar da mamãe naquele lugar. Olhem os tons de verde, o vermelho, o roxo, não é lindo demais? Verinha de tudo! (Leonora)