terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Um elo sem fim

Quase completando um ano do falecimento da mãe Verinha comecei a ter coragem e necessidade de mexer nos guardados. Sabe aquela caixa com lembranças de uma vida que foram sendo armazenadas? Resolvi olhar e ler calmamente cada pedacinho de papel. Quanta emoção! Fui sendo tomada por um aconchego amoroso tão grande... Vi ali a minha história recontada e testemunhei o nascimento da Verinha mãe. Dos preparativos para a minha chegada à ansiedade em trazer a primeira filha para casa e saber cuidar bem, tudo ali registrado. Fui coberta de carinho e atenção pela mãe Verinha, fui muito querida. Que privilégio o meu, pois ter uma mãe cuidadosa, ponta firme e afetuosa é Verinha de tudo! (Leonora)


Nota fiscal da compra do berço



Anotações do meu pai no verso da nota fiscal.
Como bom engenheiro e futuro sociólogo, dados importantes

Anotações da mãe Verinha no verso da receita médica do
 Dr. Jairo R. Valle, médico neurologista infantil.

Registro da primeira vacina que tomei dois dias depois de nascida, BCG.

Tudo isso me fez lembrar de uma das dez músicas do CD “Canção de todas as crianças”.  Esse trabalho do Toquinho e do Elifas Andreato tem como objetivo divulgar, através de canções, os dez princípios da “Declaração Universal dos Direitos da Criança”. “De umbigo a umbiguinho” fala do princípio IV que é: “A criança tem direito à alimentação, direito de crescer com saúde e a mãe deve ter cuidados médicos antes e depois do parto”.

De Umbigo a Umbiguinho
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já pulsava sem querer
O meu pequenino coração,
Que é sempre o primeiro a ser formado
Nesta linda confusão.

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe já comia pra viver
Cheese salada, bala ou bacalhau.
Vinha tudo pronto e mastigado
No cordão umbilical.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!
De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.

Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe começava a conviver
Com as mais estranhas sensações:
Vontade de comer de madrugada
Marmelada ou camarões.
Muito antes de nascer
Na barriga da mamãe me virava pra escolher
A mais confortável posição.
São nove meses sem se fazer nada,
Entre água e escuridão.
Tanto carinho, quanta atenção.
Colo quentinho, ah! Que tempo bom!

De umbigo a umbiguinho um elo sem fim
Num cordãozinho da mamãe pra mim.

Dialeto 7

Hoje pela manhã, conversando com a minha irmã mais nova por torpedo no celular, recebo uma resposta com a seguinte expressão: “angu encaroçado” (risos). Fazia tempo que não usávamos essa expressão da mamãe. Vou explicar onde ela se encaixa. Sabe aquele assunto complicado, aquela história que quanto mais você mexe, pior fica? Pois bem, trata-se de um “angu encaroçado” ou “angu de caroço”. Vou confessar que mãe Verinha gostava de encaroçar o angu. Uma mesma história rendia em suas conversas. Mamãe era capaz de falar de um assunto por dias e, a cada nova abordagem, comentada com uma nova pessoa, ela introduzia mais caroço no angu. Como a coisa rendia! No final, quando não dava mais para mexer a panela de tanto caroço, ela colocava um ponto final dizendo: “Vamos parar com essa conversa porque já virou um angu de caroço!”. Portanto, render um assunto é Verinha de tudo! (Leonora)